segunda-feira, 11 de abril de 2011

Metanoia


Pesadelo! Desespero e aflição... Não consigo chegar ao meu objetivo. Longe, bem longe eu avisto um feixe de luz que reflete em meus olhos e chama pelo meu nome com uma voz angustiada por ver fraquejar aquele a quem tanto ama. Sinto-me perto e longe ao mesmo tempo. Acho fácil, mas confesso que é difícil. Valorizo-me, porém sou um condenado a fracassar. Caminho a passos lentos por uma estrada de areia cheia de pedras, cacos de vidro, espinhos e galhos secos. 

Começo meu trajeto de pé, firme, ereto. Logo me vem um formigamento nas pernas, uma inquietude penetrante e já perco as forças. Caio de joelhos! Tento prosseguir (e dessa forma já será bem mais árduo), mas o meu corpo ferve como larva ardente à boca de um vulcão e, de cara, ponho-me a descansar. Quero continuar e preciso fazer isso ou verei o meu fim e minhas visões tornar-se-ão verdade. Agora, perdido nos meus ideais, com vontade de deixar tudo pela frente e voltar, sigo engatinhando. No caminho me aparece uma enorme quantidade de mulheres. Inúmeras, de todas as qualidades, de todos os jeitos, casadas, solteiras, velhas, novas, crianças, muitas... Mas, um pouco à frente um anjo brilha singelo ao alcance da minha vista e isso me anima um pouco. No entanto todas aquelas mulheres agarram-me e puxam-me para trás, deixando-me cansado ao dobro. E isso me desmotiva por inteiro. Pronto! É hora de desistir. Já não dá mais para insistir. 

Joelhos rasgados, mãos calejadas, um peso na consciência, uma fadiga corporal, os olhos cansados, um coração dilacerado, um homem e sua própria miséria. A luz é meu clímax. O alto daquele brilho é o ponto de chegada. Vejo que muito andei e que pouco fiz. Mas quero continuar. No fundo eu acho que devo continuar.

De pé não dá mais. De joelhos é impossível. Engatinhando, muito pior. O jeito é seguir rastejando como tartaruga que carrega o seu próprio peso lentamente. É assim que vai ser. Continuo minha peleja, agora com o peito ferido externa e internamente. Nem sei se meus órgãos vitais irão suportar. O anjo ainda olha-me com o mesmo amor de sempre. Isso é incrível e me incomoda às vezes. Mas à luz eu tenho que ir. Chuva, tempestades de areia, falta de companheirismo, solidão, fome, sede, aflição... Gritar? Como? Nem em pensamentos!

Eu chego lá. Eu chegarei lá, mesmo que desfigurado pelas maldades que me consomem, pelos vícios, pelas palavras em vão, pelas atitudes incertas, mas eu vou estar lá. E comigo vai a minha persistência  irritante. Anos a finco, muita luta. Lágrimas molham o meu rosto não pela dor, que é grande, mas porque já não posso mais.

Então, deu-se o fim. Fiquei pelo caminho! Perdi a batalha...

Calma! Não... Por que esse anjo brilhante não se apieda de mim e desaparece? Por que meus olhos queimam e não posso ver o meu próprio fim? Que luz é essa que de mim se aproxima e faz o meu coração acelerar? O que é isso que reaviva meu corpo e me põe de joelhos novamente? Por favor, identifique-se. Olhe meu estado humilhante. Não me deixe ainda pior do que já me encontro. Fale... Grite, mas reaja! Anjo que brilha diante dos meus olhos, explica-me? Teu silêncio dói. Por que ergues essa espada tão reluzente? Vai dar-me a sentença final? 

Anjo de misericórdia que com tua espada de justiça e compaixão aparece-me sem explicação. Carrega-me em tuas asas até o feixe de luz no alto dessa pedra e me retira da escuridão pela qual minha vida tem sido trilhada. Voa, anjo. Vai e leva esse pobre homem pecador! Apieda-te de mim! Tem compaixão de minh’alma. Mostra-me a verdade e por meio dela serei liberto da escravidão. Eu deposito a minha confiança  em Ti... 

Agora sim, desisto!

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