Escrito pela professora Helena Basilissa
Aos 28 anos, Luís Otávio já era um grande empresário conceituado na cidade. No auge de sua juventude, vivia para o trabalho, repleto de compromissos e responsabilidades. Trabalhando sem parar, cheio de entrevistas e viagens, alavancava seus negócios construindo até mesmo uma carreira de sucesso internacional. Amigos? Romance? Diversão? Não. Ele não teria tanto tempo a perder, afinal, não teve uma vida fácil e precisava compensá-la. Isolou-se. Trabalhou. Construiu um império faraônico.
"Que exemplo! Tão jovem e tão rico... Daqui a pouco não precisará mais trabalhar!" Expressavam as pessoas admiradas com tamanha jovialidade e riqueza.
Entre seus romances passageiros, pensara em construir uma família, mas nenhum conseguiu marcá-lo profundamente, não podia dedicar-se aos amores que lhe apareciam. "Ainda não é tempo. Um dia, quem sabe..." Era ocupado demais para fazer planos e viagens que não fossem a trabalho. Não teve muitos momentos de lazer e não se encontrou com os velhos amigos para o churrascão. Ainda não tinha tempo. Faltar? Nem pensar! Um dia parecia pouco para tantos afazeres: viagens inadiáveis; tarefas obrigatórias; uma falta no trabalho e uma grande produção estaria perdida. O prazer lhe fugia à mente. Ele não tinha tempo.
O mesmo tempo que lhe fez refém, passou, castigou. Luís Otávio tinha agora 60 anos com uma fortuna que lhe garantiria o resto da vida. Luís tinha a fortuna, apenas. Olhou para trás e viu que não tinha tempo a perder, mas perdeu todo o tempo. Esqueceu-se que o relógio não para e os dias não podem ser congelados, o trem da vida segue quer queira ou não. Os amigos viajaram, hoje têm muitas experiências para contar. Os amores antigos casaram, hoje têm famílias para cuidar. Sua única família se foi e agora ele estava sozinho. Arrependeu-se, desejou que seus dias tivessem mais horas e que pudesse recuperar tudo aquilo que não viveu, que seu suor e suas noites de sono perdidas pudessem trazer uma recompensa. Lhes trouxe apenas o dinheiro, que agora era sua única companhia e história para contar.
"Ainda não é tempo". Mas já foi.
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