Era dia de grande festa no palácio
da jovem Bela. Todos ao seu redor celebravam com entusiasmo a satisfação de
terem a princesa à frente da administração de toda a propriedade real. Ela era
muito jeitosa no trato com todos, sempre de sorriso aberto e farto no lisonjeio
de suas determinações. Seus cachos dourados soltos sobre o simples vestido de
cetim azulado com ornamentos em pérolas tornavam-na irresistivelmente
encantadora. Sua posição hierárquica privilegiada não a fazia em nenhum sentido
superior aos outros. Ela era de uma simplicidade admirável.
Mas havia
algo na princesa Bela que a entristecia por raros instantes e que lhe confundia
o coração. A ausência de seu amado gerava muitos questionamentos em sua cabeça.
O Bom Moço, a quem o destino proporcionou-lhe a ocasião de conhecer num simples
debate sobre assuntos políticos, acabou por encantar a ambos de forma imensurável.
No entanto, a distância entre eles e a falta de permissividade para um diálogo
livre tornava tudo muito complexo.
Acontece que,
no exato dia em que a princesa celebrou seu natalício, o Bom Moço resolveu não
aparecer no palácio e isso acabou gerando no coração de Bela uma profunda
mágoa, ocasionada pela saudade que em seu peito já se aglomerava. Nem sabia ela
que o seu amado corria sérios perigos e que a sua imagem tão cativante não lhe
saía da cabeça um instante sequer. O jovem líder combatente travava uma árdua
batalha num campo de guerra do qual ele não sabia que destino teria.
Pela falta de
informações, já muito tarde da noite, com o coração cheio de encantos na
expectativa de tomar para si aquele abraço envolvente, a princesa Bela
determinou aos seus melhores soldados que lhe vigiassem durante o sono e que
eles não permitissem que ninguém atrapalhasse sua hora de repouso intenso. De
prontidão, confiante nas ações de seus melhores soldados, ela pôs-se a dormir
depois de alguns goles de vinho. Seu sono foi fatal, quase que por um desmaio
ela trancou seus olhos e seu coração amargurados de tanta saudade.
O Bom Moço
vivia um grave conflito interno entre o ficar e o partir. Sua razão
determinava-lhe que ficasse e continuasse a luta intensamente, resistindo o
máximo que pudesse para alcançar de vez a vitória. Porém, as emoções judiavam
do jovem homem apaixonado e num reflexo de uma profunda saudade que avassalou
seu coração, ele determina ao seu fiel parceiro de combate que continue a luta
sem ele, não havia mais tempo a perder. Ele precisava reencontrar a linda
mulher que remodelou seus sentimentos. Tomou o cavalo estrada a fora rumo ao
palácio da princesa Bela.
Chegando lá
pela manhã do dia seguinte, correu com desespero em busca de encontrar prontamente
a jovem garota, mas Bela estava ainda adormecida profundamente e não se dava
conta de que seu amado à porta batia determinado a vê-la. Ele entrou no palácio
com a habilidade e audácia de um líder de guerra e encontrou como sentinelas os
mais fortes soldados de que Bela dispunha para proteger-lhe. Tentou em vão atravessar
a barreira de soldados que protegiam a jovem princesa. Eles tinham a
determinação de não permitirem a intromissão de ninguém no quarto do palácio
real, em ocasião nenhuma.
Acontece que
o Bom Moço ruía em ansiedade e depois de esperar fora do castelo por longos
instantes, resolveu por si só descobrir o que ali dentro acontecia. Usando-se
de suas habilidades de combate, foi escalando pedra por pedra da parede do
palácio até que chegasse ao quarto da princesa Bela. Ela ainda dormia em
profundo sono, imóvel e intocável. Ele aproximou-se cautelosamente e, em estado
de graça, pôs seus dedos por entre os cabelos da princesa segurando sua cabeça
delicadamente enquanto a observava com magistral admiração. Ela absolutamente
nada correspondia.
O Bom Moço
curvou-se em sua direção e beijou-lhe apaixonadamente os lábios adocicados e
gélidos da jovem garota. Ela estava irresoluta, não teve a menor reação
esboçada para que o coração encantado do guerreiro se acalentasse. Tentou uma
segunda vez beijar-lhe, mas ainda assim ela a nada correspondia. O coração do
homem bom começou a preocupar-se com o que ocorrera. Ele estava possuído de
amor por aquela mulher. Queria tê-la para si demasiadamente.
Foi quando
teve a inspiração de sussurrar em seu ouvido alguns versos românticos de um clamor
amoroso irreal. Espontaneamente lhe dizia de olhos fechados as mais belas
palavras já ditas por um humano coração apaixonado. Ainda com os olhos travados
e umedecidos, deleitava-se em profunda poesia recitada no palco do seu coração
para a plateia mais perfeita que já vira, sua linda princesa Bela.
Depois de tantos clamores, de
muitos dizeres sinceros, com o olhar banhado em lágrimas, o coração ritmado
intensamente pelo fogo do amor que lhe dominava, ele entreabre os olhos e se depara
surpreendentemente com o olhar atencioso de Bela que há muito já acordara e
silenciosamente ouvia a declamação de seus versos românticos. Ele gaguejava
palavras na tentativa de demonstrar a surpresa por tê-la acordado, mas ela não
permite. Põe seu dedo sobre os lábios do Bom Moço como forma de lhe pedir para
que não diga mais nada. Bela puxa o jovem homem para sua cama e juntos
emolduram a mais encantadora relação de amor que já tiveram.
Momentos depois, ela abre as portas
do quarto real para a surpresa de seus melhores soldados que veem diante de si
a imagem do Bom Moço de mãos dadas com a princesa. De súbito, todos se põem a
pedir desculpas, mas Bela não permite que eles terminem, ao contrário, ela os
agradece vivamente por terem sido responsáveis pela produção do maior e melhor momento
de toda a sua vida: a manifestação do mais puro amor.